quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Daquilo que permanece só por dentro


Feito a casca que se rompeu,
escancarei-me a ti.
Contei meus segredos mais íntimos,
meus sonhos mais utópicos.
Dei-te minhas horas de sono.

Guardei teus olhos na minha lembrança,
o teu gosto na minha fome,
a marca da tua boca num pedaço de papel.
E permaneço com nossa trilha sonora
ainda embalando meus ouvidos.

Fizeste um Carnaval em meu coração...
Mas hoje, nessa quarta, ele está em cinzas.
Eu sei, já é fora de época,
mas também sei
que desde que te conheci o meu tempo parou.
Meus passos se perderam
desde q’eu quis rumar contigo.

Hoje você ruma em outra estrada
e eu tento outro caminho.
Minha esperança foi-se embora,
mas ainda te tenho aqui por dentro.


Jefferson Santana - 24/12/2014

terça-feira, 18 de novembro de 2014



Não, não adianta,
eu quando amo,
amo intensamente,
de verdade, com vontade.
Já tentei quebrar esta corrente
que me prende...
me liberta 
até pra querer quem está ausente...
na minha mente presente.

Não, não adianta,
meu coração tem o tamanho de um punho
e meu amor quilômetros.
Aliás, aonde acaba o amor que começou?
Como partilhar com alguém que parte?
Como não me partir a partir disso?
Como mudar a parte em que amor acaba?
O amor me acaba
desde que em mim começa...

E não adianta mudar
se o amor muda até meus rumos...
me muda, me planta...
ele se frutifica. 

Jefferson Santana

domingo, 16 de novembro de 2014

juntando as lágrimas
de minhas mágoas,
afundei minha ilusão
em molho.

meu olho é um mar inteiro
e meus sonhos andam as ondas
que não chegam a terra firme,
estão perdidos num pacífico gelado
afogando-se sem serem escutados...
um grito de socorro abafado.

Jefferson Santana

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

De todos os dias que lembro daquele olhar



Depois que os vi pela primeira vez,
não houve um dia sequer
que não pensasse naqueles olhos.

Enxerguei amor e senti fome.
Sentir foi o que restou
na impossibilidade do alimento.

Desnutrido, só avistava cores
quando fechava os próprios olhos
e pensava naqueles que já não podia fitar.
Ainda assim, era o que de mais bonito eu via.


Jefferson Santana

sábado, 4 de outubro de 2014

Meu partido



Parafraseando o poeta,
estou partido
em um coração
des
     pe
         da
             ça
                 do.

Minha co-ligação
está na saudade das coisas
que nem aconteceram.
É o sonho que tornou-se insônia.
É o frio no próprio corpo
pela ausência do outro.

Meu número é um
0 à esquerda,
                     em uma solidão destra,
dessas legendas largadas
nos rodapés das páginas
de todos os dias que não amanhecem.
Não há nem primeiro ou segundo turno,
se não vejo a aurora.
Agora é hora plena da madrugada.

Não ansiava mandato,
queria integração
entre desejo e satisfação.
Mas a realidade é outra:
Minha candidatura cassada.


Jefferson Santana



                 

sábado, 27 de setembro de 2014

Crime Poético no Festival de Poesia da cidade de São Paulo

O meu poema Crime Poético, do livro Cantos e desencantos de um guerreiro está participando do 1º Festival de Poesia da cidade de São Paulo.

Veja e vídeo abaixo e se gostar compartilhe e comente a publicação.

Hoje minha mão está armada,
De caneta muito bem carregada
De tinta, que deixa marcas graciosas
Na folha, e as intenções objetivas:

Surge como Sol na ponta do cano,
Indo em direção ao meio do crânio,
Como tiro de chumbo certeiro,
A modificar os neurônios do hospedeiro.

A mão é ansiosa e intencional,
A caneta é mero objeto acidental,
A folha cúmplice e prova criminal,

E o crânio é do gigante que cai,
Com a palavra mais ardente que vai,
Como bala que explode e não sai.

http://correspondenciapoetica.com.br/festival-de-poesias/154-crime-poetico.html

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Dualidades 1

Portava uma bela bandeira,
enquanto carregava o pesar da mágoa.
Era desses que distribuía risos de longo alcance
e sofria pra dentro de si mesmo.
...
inaugurava uma insônia
com o desfecho de um sonho
...
ao se perder  em busca de respostas
encontrou um novo rumo para outras perguntas
...
a partir do momento em que disse a verdade
foi a hora em que os falsos
nunca mais dirigiram à palavra a ele


Jefferson Santana

terça-feira, 16 de setembro de 2014

relatividade

às vezes não se precisa de muito,
do que se diz pouco
já é o suficiente.

pra quem tem coração,
uma ação

já é causa pra reação.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014



alguns passam
e vão-se embora.

mas há quem passa
e permanece por dentro,
e a gente só quer rumar...
se arrumar nos passos do outro.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Do desaguar



Deixei minhas lágrimas no sol
pra que secassem no relento de um amanhecer.
Mas foi-se o tempo perdido,
com meu miocárdio partido,
já que não parava de chover em meus olhos,
e eu mesmo me afogava nas minhas marés.

Eu pretendia a paisagem distante,
mas agora é preciso o contentamento
das minhas mãos vazias dela,
dos pés impedidos de correr ao seu encontro.
Eu me perdi por não poder sair do lugar
e não levar o mar pra estrada desejada.

Deixar o poema triste é como dar a cara à tapa,
mas depois de machucado é a mesma dor já sentida
dos laços rotos, dos sonhos não vividos,
da canção que soa não só nos tímpanos,
mas de arranjo incessante na minha mente,
junto à lembrança do olhar outrora repousado.

Talvez um dia, de tanto desaguar,
seque esta represa trincada no meu ser.

Jefferson Santana



quarta-feira, 23 de julho de 2014

Em breve: Pétalas e Pedradas

A partir da semana que vem, Pétalas e Pedradas, meu segundo livro, fica à disposição para o mundo e eu sigo na ansiedade e me excedendo por aí.


sexta-feira, 11 de julho de 2014

vida & versos



quero que meu verso
dê na tua linha,
e ganhemos ritmo
pra inventar nosso
compasso, nossos passos...

de repente nossos
caminhos cruzados
numa estrofe qualquer,
você na minha métrica
eu nas tuas assonâncias...

nossas aliterações.

Jefferson Santana

domingo, 6 de julho de 2014

A culpa é dos adultos


um dia me disseram
que criança brincava de pipa, pique-esconde e peão,
mas tenho visto até criança com revólver na mão.
então fico a me perguntar:
- como a arma chegou lá?
talvez alguma desatenção
da família de peões de um Capital,
no caso da criança ter família,
pois algumas nem têm esse privilégio.
talvez é a escola sem integração,
ou a tentação da ostentação do comercial da TV.
não sei qual o pior, ou se todos,
mas falta também saúde pública e mental
numa sociedade doente
em que as pessoas veneram dinheiro,
sem raciocínio mínimo
para escrever os rumos da própria trajetória.

a juventude assim tá perdida,
pois em meio aos adultos inconscientes
sofre as consequências.
é inegável que a juventude tá sem educação...
saúde, carinho e condição social.
a juventude tá na linha de frente,
em meio aos adultos inconscientes.

de onde vem essa doença
ou quem foi que a disseminou?
só não sei o porquê agora,
nesta hora dos nossos dias,
querem enjaular quem já mais sofre com os sintomas.
alguns “homens de bem(ns)”
levantam uma bula ou bandeira
de que remédio é cadeia,
sentados nas suas cadeiras de seus palácios,
pra que pessoas comuns como nós comprem a receita.

mas sem prevenção
não há virose que não se espalhe.
isso é orientação que os mais experientes deveriam saber,
pra práticas que evitem a tal da punição.
a verdadeira orientação é pra que crianças e jovens
portem lápis, caneta... borracha,
pra que o sangue escorrendo seja apagado,
e uma nova história seja escrita:
das pipas que se espalham pelos céus,
pra que reapareça um pique-esconde,
entre meninos e meninas acolhidos por famílias...
famílias que não façam só o papel de peões.
Pelo fim da trama que propaga o drama!

se as coisas não estão como deveriam,
a responsabilidade não é dos mais jovens,
estes, pelo que vejo, nem foram educados.
culpa é de quem muito já deveria ter aprendido...
a culpa é dos adultos, imaturos em demasia,
que não sabem da importância de uma criança.


Jefferson Santana

sexta-feira, 27 de junho de 2014

rimar amor com vida



escrevo versos em nome do amor
versus
toda a dor que me acompanha.

das coisas mais ridículas
e depreciativas
é que amor rime com dor,
e não com vida,
mas eu mesmo me convido
a rimar amor com vida.

e que embora repetitivo,
não me sinto compreendido,
pois tem quem só sobreviva
com ferida que não cicatriza,
eu mesmo muito resisto,
e me suporto.


porto meu sangue vermelho
nas palavras,
mas a fim de acompanhar Vênus
pra degustarmos um vinho tinto,
sem me preocupar com alucinações
e possíveis ressacas,
que não me deixem viver o dia.

eu quero o perfume da rosa,
ainda que me machuque,
mas que não seja só dor.
que me tire do leito e me faça andar,
pra contemplar uma rima rica,
sem forma ou definição,
de amor com vida.

Jefferson Santana

sexta-feira, 20 de junho de 2014

desat(in)ando














eu só quero
quem me queira,
se não,
nem venha
atravancar meu caminho.

me deixe

se
não quer meu riso,
não faz questão
da minha lágrima.

dá licença
que nem quero te ver
nem se for na TV.
vê se
nem lembre de mim,
se não lembra de mim.

minha porta tá fechada
mas você 
nem se importa
com a fachada,
e nem sei o porquê
me importo...
e porto estas palavras
de escrever

me deixe só,
somente só,
se não me quiser.

desatemos 
os nós, 
se não formos nós.


Jefferson Santana

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Das químicas interessantes...

In: Cantos e desencantos de um guerreiro (Meu livro de 2011)

Às Marias e tantas mulheres de tantos nomes


(*Música de Milton Nascimento, lindamente interpretada por Elis Regina)

Maria das Dores, trabalha como doméstica.
Com três filhos no lar, que nada fica.
Fica mais na casa da patroa pra limpar
e com as duas crianças dela pra cuidar.

Mantém o casamento com um marido,
sem ter o tal do amor correspondido,
já que o varão, que se acha, a engana
com a amante que sai toda a semana.

Ela esconde tristezas embaixo do tapete,
talvez pelos filhos, amores de valor.
Mas talvez ela perceba e um dia constate

que não pode mulher ser refém da dor,
que sua vida pode ser independente 
desse marido, ou de cotidiano opressor.

Jefferson Santana